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O ESG vivo, a sociedade do risco e a economia regenerativa: a revolução copernicana dos mercados

O ESG tem avançado globalmente e a cada dia mais os desafios da sua amplitude, bem como dos seus impactos, ainda se encontram sendo desvendados por grande parte das companhias.

Muito embora os aspectos ambientais, sociais e de governança já existissem, muitos deles ficaram interrompidos das agendas, não sendo a prioridade das organizações. Agora, tem-se um mercado aquecido e um “ESG Vivo” que passa a ser o cerne da perspectiva dos investidores e dos executivos ao redor do mundo.

Isso se confirma com os resultados da Pesquisa CEO Outlook Pulse Survey 2021 da KPMG, na qual indica que com a realização da COP26 e com retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, cerca de 49%  dos CEOs planejam implementar práticas de ESG mais rígidas. Além disso, 89% estão com foco em assegurar a continuidade dos avanços obtidos durante a pandemia nas questões relacionadas à sustentabilidade e às mudanças climáticas. Ainda, em torno de  96% dos executivos globais estão procurando aumentar seu foco em direção ao elemento social dos seus programas de ESG.

Nessa linha, Mervyn King já havia afirmado que as organizações não deveriam somente se atentar ao prisma dos ativos tangíveis, mas também, no valor corporativo, dos ativos intangíveis, tais como como goodwill, marca, reputação, qualidade da governança, excelência da gestão, histórico de respeito aos direitos humanos, aspectos sociais e trabalhistas e a consideração dos ecossistemas na comunidade onde a empresa opera.  Perante esse panorama, o planeta e os lucros não podem mais estar separados, por isso, cabe um posicionamento e planos de ação por parte das organizações.

Sobre a relevância do tema e da responsabilidade de todos frente as mudanças climáticas, os alertas estão sendo reforçados incessantemente. Em recente publicação do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima -IPCC da ONU houve a quantificação do nível de influência no globo terrestre relativamente as secas, ondas de calor intenso, tal qual de tempestades e furacões. Além disso, revelou que a temperatura planetária tende a aumentar 1,5ºC nas próximas duas décadas, o que trará um impacto indescritível ao planeta. Ademais, evidenciou que as mudanças climáticas, com a influência das ações humanas, já estão conduzindo a Terra a eventos climáticos extremos, sendo que alguns impactos poderão ser irreversíveis e permanecerão por muito tempo.  Deste modo, a estabilização do clima irá exigir reduções substanciais na emissão dos gases efeito estufa para que se alcance emissões zero carbono.

A mudança que se espera nas ações humanas, em nível mundial, está na linha dos estudos de John Fullerton sobre necessidade de um novo ponto de vista sob a égide do Capitalismo Regenerativo. O objetivo é garantir o desenvolvimento dos mercados no horizonte da economia regenerativa, cujo enfoque está no impacto positivo do negócio em conjunto com as pessoas e o planeta.

Tal análise corrobora com a visão da sociedade do risco de Ulrich Beck, na atual fase da sociedade moderna, em que se consolida os riscos, políticos, econômicos, sociais e industriais. Momento em que tem-se o conhecimento dos efeitos colaterais sociais, econômicos e políticos que representam os reflexos das decisões empresariais, do mercado, dos impactos na reputação, além de temas como degradação ambiental, depreciação de capital, dentre outros.

Diante disso, compete as organizações o estabelecimento e ações rápidas. Sendo assim, convém conhecer o seu nível de maturidade e a sua materialidade, com  a compreensão das réguas de impacto que a sua companhia se encontra nos aspectos ambientais sociais e de governança. O propósito maior é evitar o greenwashing.

Nesse sentido, dentre as diretrizes globais do ESG que podem contribuir nessa jornada, tem-se a Força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas -TCFD que apresentou recomendações fundamentadas em quatro elementos centrais aplicadas a vários setores: Governança, Estratégia, Gestão de Riscos, Métricas e Metas. Nesse cenário, é crucial a verificação dos riscos climáticos na perspectiva:  do risco de transição, risco de política e legais, risco tecnológico, risco de reputação, riscos físicos (agudo e crônico), risco estratégico, risco operacional e dos financeiros: crédito, mercado e liquidez. Além de outros que a companhia entender como relevantes.

Ademais, como outras referências, tem-se o Sustainability Accounting Standards Board – SASB que apresenta padrões de sustentabilidade para  77 setores e que identificam o subconjunto de questões ESG para o desempenho financeiro em cada setor. Ressalta-se também as diretrizes da Global Reporting Initiative – GRI, Fórum Econômico Mundial, IFRS, Relato Integrado entre outras. Além dos índices que passam a ter um papel essencial na tomada de decisão dos investidores: Sustainalytics (rating ESG), Dow Jones (DJSI), Índice S&P/B3 Brasil ESG, ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e o ICO2 (Índice Carbono Eficiente), sendo esses últimos da B3.

Diante do exposto, na Sociedade do Risco, o Capitalismo Regenerativo representa um paradigma com desafios monumentais ante a evolução no universo. Tudo se está no início, mas, todos devem ser responsáveis por suas ações adotando as medidas mitigatórias cabíveis, visto que somente mais a frente será possível inferir quão profunda, revolucionária e premente será essa transformação Copernicana em prol de um “ESG Vivo” nas organizações.

 

Publicado em Estadão em 23 de agosto 2021

Link https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-esg-vivo-a-sociedade-do-risco-e-a-economia-regenerativa-a-revolucao-copernicana-dos-mercados/

Compliance, Inteligência Competitiva e o Cisne Negro: como estar estrategicamente preparado para o improvável?

Os riscos denominados “Cisnes Negros” são idealizados como aqueles eventos imprevisíveis, fatos altamente improváveis, mas, que geram alto impacto. Deste modo, devem ser observados sob o enfoque da governança, do sistema de integridade corporativa, do jurídico e da inteligência competitiva para a construção de estratégias que proporcionem êxito nas deliberações a serem adotadas, para preservação da companhia no mercado.

O mundo já passou por tantas circunstâncias inesperadas e improváveis, sejam em governos, organizações e na própria vida das pessoas. Movimentos econômicos, circunstâncias sociais em decorrência de fatos inconcebíveis, temeridades corporativas que conjecturaram abalos de companhias e que se refletem muitas vezes globalmente.

Os fatos ocorrem sem qualquer previsão, pois, simplesmente não era possível prevê-los antecipadamente. Os riscos eram tão baixos que não foram premeditados e nem sequer percebidos, eram imprevisíveis.

Entretanto, apresentam consequências nefastas, cujas tratativas demandam ação rápida, concreta, assertiva, prudente e racional.

Sob esta esfera, encontra-se a questão de como se abordaria os riscos inimagináveis e qual seria o papel mais assertivo da organização nessas situações.

Destaca-se, com isso, que a gestão de riscos corporativos é uma estratégia crucial para que a organização encontre o seu equilíbrio, com enfoque em uma atuação preventiva com a mitigação máxima dos riscos, de modo a assegurar a sua sustentabilidade, levando em consideração os controles internos. Por conseguinte, a gestão dos riscos proporciona a possibilidade de administrar, de forma mais eficaz, as incertezas, a fim de aprimorar a capacidade e de gerar valor a companhia e aos seus stakeholders (partes interessadas).

Neste prisma, um ponto proeminente sobre os riscos inconcebíveis, encontra-se na concepção dos riscos denominados “Cisnes Negros” idealizados como aqueles eventos imprevisíveis, fatos altamente improváveis, mas, que geram alto impacto. Salienta-se que o risco Cisne Negro adveio da concepção apresentada nos estudos do autor matemático Nassim Nicholas Taleb, na sua obra “A Lógica do Cisne Negro”.

No livro, o autor faz alusão sobre o Cisne Negro, declarando que historicamente no Antigo Mundo, as pessoas somente detinham conhecimento da existência de cisnes brancos. Sendo assim, acreditar na existência de um cisne de outra cor era algo totalmente impensável.

Todavia, contraponto essa visão, enfatiza Nassim Nicholas Taleb que, o mundo foi completamente surpreendido quando, na Austrália, por volta do ano 1697, descobriram-se Cisnes Negros. É nesta lógica que o autor remete o fato a realidade baseada na experiência (empírica). Desta forma, ressalta o autor, que o Cisne Negro é primeiro um “outlier” (ponto fora da curva), pois se encontra fora da esfera das expectativas que seriam consideradas como “comuns”, visto que nada poderia indicar, de forma mais persuasiva, a sua possibilidade. Além disso, em segundo plano, o Cisne Negro se apresenta como um impacto extraordinário e, como terceiro, seria um atributo no qual possibilitaria o desenvolvimento de uma explicação ao ocorrido, após o fato, o que o tornaria “explicável e previsível”. Em resumo, seria considerado como algo raro, de impacto extraordinário e de previsibilidade retrospectiva, não prospectiva.

Desde a sua apresentação, o conceito do Cisne Negro foi inicialmente relacionado ao mercado financeiro, na perspectiva da teoria de aleatoriedade, ou seja, de um risco aleatório e imprevisível, porém, que quando ocorre, causam reflexos potencialmente devastadores.

Neste ponto, os estudos apresentados pelos autores Howard Kunreuther e Michael Useem no livro “Aprendendo com as Catástrofes: Estratégias para Reação e Resposta” enfatizam a relevância das tratativas do risco extremo para a preservação, bem como para assegurar maior resiliência da organização.

Deste modo, pautado nestas diretrizes, o risco Cisne Negro deve ser um dos enfoques da governança, além do sistema de integridade corporativa que é composto das atividades de compliance, auditoria, controles internos, ética empresarial, gestão de riscos, gestão de crises, segurança corporativa e a sustentabilidade. Além disso, há de se destacar a importante atuação do departamento jurídico, nesta esfera, que detém como o objetivo primordial a proteção dos interesses da corporação com fundamento na legislação vigente, além de deter a responsabilidade de garantir segurança jurídica.

Ademais, neste contexto, salienta-se o papel fulcral da inteligência competitiva que se compreende como o conhecimento profundo dos negócios, mercado e os processos para a gestão estratégica da companhia, pelo qual contribui, juntamente com a governança, o sistema de integridade corporativa e o jurídico, de forma determinante na tomada de decisão, na tratativa de consequências, nos propósitos, além do monitoramento corporativo.

Logo, por mais que seja difícil a mensuração de qualquer este risco, é muito importante à companhia se organizar, através de procedimentos gerais que possam ser aplicados no momento do fato, pois, enfatizam Howard Kunreuther e Michael Useem em sua pesquisa, que o nível de percepção do risco é diferente entre as pessoas, o que influencia diretamente na decisão, que em grande parte das circunstâncias, deve ser concretizada de forma imediata, ou mesmo em curtíssimo espaço de tempo.

Sendo assim, já possuir estratégias gerais e de liderança, traçadas em um plano fundado na missão, visão e valores da organização, em momentos de crise, é um diferencial para o êxito nas deliberações a serem adotadas. Com isso, convém agir de forma preventiva e proativa na preservação dos negócios, reportando e respaldando, das melhores práticas de ética, transparência e responsabilidade, a Alta Administração e todos os envolvidos.

Por conseguinte, estar preparado para os Cisnes Negros, através de diretrizes, de inteligência competitiva, governança, integridade corporativa e jurídica, consolidadas em políticas e procedimentos, será uma vantagem competitiva para os negócios. Afinal, a companhia estará mais bem preparada para a tomada de decisão que poderá refletir na sua reputação, integridade, sustentabilidade e perenidade no mercado.

 

Publicado em Segs em 17 Julho 2017 .

Link https://www.segs.com.br/seguros/73263-compliance-inteligencia-competitiva-e-o-cisne-negro-como-estar-estrategicamente-preparado-para-o-improvavel